Ninguém pode culpar Michelangelo! Um colega do atelier ofendeu seu trabalho e ele foi tirar satisfações. Como nosso grande artista não entendia nada de briga, acabou voltando pra casa com um olho roxo e um nariz quebrado...
Era meados de 1500 e nessa época não existiam muitas técnicas de cirurgia nasal. Sendo assim, o pobre Mike teve que se contentar em viver com um nariz torto e deformado pelo resto da vida!
Mesmo assim ele se tornou famoso, esculpiu belas obras, até que um artista, Jacopino Del Conte, resolveu homenageá-lo pintando seu retrato.
Mas, espere um momento! Repare na imagem 1, o retrato de Michelagelo, e responda: Onde está o nariz torto? Acho que Jacopo decidiu esquecer-se dele...
Alguns séculos mais tarde, em 1921, a cantora Emile Marie Bouchard apareceu exuberante em uma fotografia! Com seu corpete perfeito e sua cintura fina, ela abalou os corações de muitos homens da época.
Opa! Você consegue perceber, ali no canto, na imagem 2? Fomos todos enganados novamente! Polaire, como era conhecida, não era tão magricela assim. Como tinta e papel fotográfico envelhecem de forma diferente, podemos, hoje, perceber que fizeram um retoque de pintura realista em cima da fotografia original...
O mesmo aconteceu com a fotografia de Hitler, na imagem 3, onde o füher mandou retirar dos arquivos históricos a imagem do seu assessor, afinal, aquela era uma fotografia onde somente pessoas do alto escalão poderiam aparecer...
Esses três exemplos que separei me fazem pensar numa seguinte afirmação: Não há tecnologia de reprodução na história que não tenha se curvado à nossa vaidade!
Os três artistas responsáveis pelas imagens acima não tinham computadores como temos hoje, mas nem por isso deixaram de fazer todo o possível pra alguém “sair bem na fita”.
Um retoque no nariz, uma cintura fina ou mesmo colar pedaços de cenário em cima de alguém são, hoje, coisas que qualquer pessoa com um mínimo de experiência em manipulação de imagens consegue fazer facilmente.
Por isso vou mostrar um conceito completamente diferente. Deixe-me apresentar um profissional que foi o divisor de águas nos retoques fotográficos da década de 30. O nome dele é George Hurrell, o fotográfo de Hollywood, e a sequência de fotos abaixo são alguns de seus trabalhos.
Hurrel aliava seus conhecimentos de artes clássicas não só para recortes e retirada de imperfeições da fotografia. Ele usava de artifícios artísticos para alterar ou adicionar iluminação criando uma nova atmosfera à cena. Seu estilo de retoque influenciou companheiros de profissão, diretores e maquiadores.
A imagem 5 é uma rara e pequena amostra de seu talento como profissional de imagens na década de 30. Foi nessa época que nasceu a pós-iluminação: uma técnica que considera a fotografia como uma pintura não finalizada! Agindo dessa forma, pintando sobre a foto, o artista observa a volumetria dos objetos em cena e pinta artisticamente a luz onde ela é necessária, garantindo não só beleza, mas também clareza visual à composição.
Para os mais curiosos com a técnica vejam a máquina a cima. Era chamada de Câmera de Pós-produção. Com ela era possível tirar a foto de uma foto! Era usada para vários servições dentro da área de produção gráfica. Um dos usos mais recorrentes era unificar o Layout de uma página: O Artista gráfico fazia o PastUp (ou seja, montava o design de página com cola, recortando imagens e textos) e depois colocava a página selada à vácuo no canto milimetrado à Direita na imagem, acertavam a luz sobre o papel (com os iluminadores também à direita) para retirar qualquer sobra que indicassem uma colagem e CLICK!Uma foto fazia o "Merge Down" (termo usado ainda hoje no Photoshop)
Artistas de fotografia usavam essa máquina para tirar foto de uma foto com retoque! Primeiro o artista ampliava a fotografia que iria retocar. Como ela estava com o dobro do tamanho quando ia para essa máquina a nova foto diminuiria qualquer falha no retoque.
Um Exemplo da técnica.
Acho interessante contar aqui como que eu re-descobri a pós-iluminação. Pois mesmo tendo convivido com profissionais que faziam esse trabalho eu não o conhecia! Entrei para área gráfica em 1998. Meus diretores de arte faziam esse tipo de reprodução, até comentavam sobre ele, mas nessa época, todos já usavam photoshop!
Num belo dia entra um importante cliente na agência, segurando uma pastinha de fotos embaixo do braço e com um sorriso feliz no rosto. Eram fotos de uma menina, de biquíni, na praia. Nosso objetivo era escolher a melhor entre todas elas para figurar na capa do catálogo de verão que deveria ficar pronto para o mês seguinte.
As fotos até eram boas, profissionais mas... aff, foram tiradas num dia nublado! E o Diretor de arte queria "uma foto de um dia feliz, vai lá e resolve com photoshop!"
E vou dizer: era 2002 e eu usei todos os recursos digitais que conhecia: filtros, máscaras, levels , canais de cor... e a foto não ficava boa! A menina não parecia estar num dia de sol!
Então pensei "Poxa, o problema é que não tem luz, direcionamento de volume! E se eu fingisse que a menina é uma pintura e desenhasse a luz e sombra nela? Pinto num layer de cima, e aplico esse layer com overlay"
No exemplo acima vemos apenas um exemplo NOVO que criei para demonstrar o que eu havia feito na ocasião: uma pintura de direcionamento de luz sobre uma fotografia.
No exemplo ao lado, uma foto "estourada" sem informação para resgatar com recursos do photoshop, e que foi restaurada usando de pintura digital e recuperação da luz e sombra.
Nesse dia eu tinha me tornado um manipulador de imagens com um diferencial! Eu sabia as técnicas de photoshop, sabia as técnicas de luz e sombra e juntei tudo pra manipular as imagens a meu gosto!
Esse diferencial me fez ser um dos principais professores de photoshop do Brasil, tanto que durante alguns anos eu me tornei o demonstrador oficial da Wacom no Brasil e dava palestras nos principais eventos do tema.
Abaixo um vídeo de 2010, onde eu estava no estande da Wacom explicando o que é a Pós-Iluminação e dando exemplos pro pessoal! Por hora, assista esse vídeo pra saber um pouco mais sobre o assunto, e em breve haverá a segunda parte desse assunto aqui no Blog!
(GENTE! Como eu estava NOVINHO!)
E aqui uma vez em que eu e o gerente geral dos produtos Wacom no Brasil aparecemos na TV demonstrando o produto.
Muito bom artigo, obrigado por compartilhar conosco!
Eu trabalho sobretudo em edição de fotografia (photoshop - como hobbie, nada profissional) e alguma edição de imagens em movimento (premiere e after effects).
Uso um tablet gráfico XPPen Star G960S Plus ( https://www.xp-pen.pt/product/691.html ). Não é uma Wacom, mas ajuda, hehehe.
Maravilha... Conheci pessoalmente um destes gênios do retoque, direto nos negativos do filme e o vi algumas vezes em ação, mas infelizmente não aprendi nada. Era o Sirota, fotógrafo famoso do Rio de Janeiro, conhecido por fazer as peruas da sociedade ficarem "bem na foto" especialmente aquelas de passaporte, que por serem maiores mostram várias coisas que elas preferem que não apareçam, mas não pode ficar diferente do original. O Sirota era um cirurgião plástico das fotos e do alto de seus mais de 80 anos - na época - queria aprender a usar programas de computador, na época eu sequer conhecia o Photoshop e tentei ensinar a missa ao vigário com o programa De Luxe Paint, uma jóia que estava disponível. Mesmo não…